Pensa-se liberdade, justiça e
democracia no sentido de valores que se aplica a coletividade das pessoas como
algo garantido institucionalmente, como um produto. Para garanti-los há os
poderes independentes (executivo, legislativo e judicial), o conjunto das leis,
as instituições nacionais e supranacionais. Não se pensa liberdade, justiça e
democracia como produto de uma formação educacional eficaz em que o homem tenha
poder de discernimento, como valores que cada um de acordo com sua capacidade
possa impor e fazer cumprir; liberdade como uma conquista individual com
reflexo no coletivo, produto da capacidade do poder de dirigir a própria vida
sem se deixar ser seduzido pelos mecanismos de sedução e conveniência.
Liberdade, justiça e democracia
remete a ideia de igualdade. Não há igualdade nas sociedades, sobretudo na
sociedade brasileira capitalista. As duas principais, desigualdade de renda e
educacional, dão as condições para que haja dominador e dominado, e seja estabelecida
uma ditadura disfarçada. Antes era a ditadura de quem tomava o poder à força,
agora é a ditadura do sedutor inteligente e malévolo sobre o ignorante
facilmente dominável, do politico sobre o eleitor, do gestor sobre o
colaborador, do patrão sobre o empregado, do marido sobre a esposa e vice-versa, dos
pais sobre os filhos, da classe dominante sobre as massas, do capitalista sobre
o consumidor, da doutrina religiosa/pastor sobre os fieis, etc. O homem tornou-se uma maquina individualista e corrupta de dominar.
Não é conveniente para os privilegiados
que as massas sejam livres. O homem
verdadeiramente livre não serve aos interesses do sistema. O sistema, algumas igrejas, as esferas
privilegiadas (políticos e falsos intelectuais) precisam que haja miséria
material e educacional, senão não se
estabeleceria a ditadura de hoje. A ditadura doutrinária.
O homem ignorante e manipulável é
levado pela mídia a substituir o que tem valor cultural de verdade por uma
falsa cultura: músicas e programas televisivos sensacionalistas de péssima
qualidade (“besteirol norte-americano”). O que cria uma conspiração alienadora.
O homem é levado a pensar coletivamente igual, um pensar nivelado ao menor
conteúdo porque o sistema necessita deste tipo de sociedade para gerar lucro e
poder politico. Chamo este homem de “homem seduzido”.
O homem seduzido é transformado
num consumista como forma de encontrar na satisfação temporária proporcionada
pelo consumo um alívio para a falta de felicidade e sentido de vida. Prática
que é conveniente comercialmente; que destrói a vida na terra através do
consumo desnecessário que retira da natureza mais do que ela pode dar. ” Falta
de felicidade, de sentido de vida e de verdadeira cultura” que tornam o homem violento
ao extremo, capaz das piores atrocidades.
O homem seduzido é um homem
infeliz porque não desenvolveu a capacidade de ser individualmente e mentalmente
livre dos mecanismos de sedução estabelecidos pela ditadura doutrinária. A educação formal não vislumbra a formação do homem livre, capaz de pensar. As pessoas estão saindo despreparadas das universidades.
É conveniência a massa de pobres/seduzidos
sem capacidade de votar conscientemente como forma de perpetuação e manutenção
dos mesmos políticos no poder ("políticos se tornam astros”); é
conveniência para algumas igrejas o mesmo tipo de homem senão ninguém frequentaria tais
igrejas e não gerariam lucros; é conveniência o mesmo tipo de homem para o capitalista.
Há um terrível erro concepcional
na formação educacional do homem ocidental que é retratado pela poetisa e
filósofa Viviane Mosé no livro “O Homem que Sabe“ (“indico para leitura”) o
qual corrobora para a existência dessa ditadura doutrinária/homem
seduzido. Para Viviane Mosé a falsa
ilusão de que a ciência moderna daria a solução para tudo gerou um excesso de
racionalismo (“homem autômato, dominador, com valores invertidos”) e eliminou
da vida das pessoas a “potência da vida”. Para
Viviane Mosé vivemos numa encruzilhada, e é preciso incluir a “potência da
vida” no cotidiano das pessoas como modo de humaniza-las. Viver ficou para
segundo plano. A prioridade é o poder e o ter.
"Viver é um ato complexo. Temos que
conviver permanentemente com a ideia da morte, da perda, da constante
transformação. Acordamos de manhã com uma programação totalmente desordenada e precisamos
urgentemente numa velocidade incrível reiniciar a máquina humana para que seja possível
a aceitação da dor (sem fugir da dor), o que é feito mentalmente; com a
possibilidade de transformar a vida numa coisa muito interessante de viver" (Viviane Mosé). Este
processo é feito inconscientemente o tempo todo. Só consegue realizar esta
operação quem desenvolveu a capacidade de pensar, discernir separado do modo de pensar coletivamente igual, porque
pensar igual não é pensar. O homem no
estado de alienação não tem condições de reiniciar a máquina (“de transformar a
confusão em ordem; a dor em alegria”). O homem não está apto para conviver consigo mesmo e ser feliz.
Não pode existir uma sociedade
livre, justa e democrática se as pessoas que a fazem não foram educadas
eficazmente. Uma educação que lhes proporcione condições de discernir e pensar/de
dirigirem suas próprias vidas e que os permita buscarem uma felicidade
consistente. Não pode o homem ser livre se a educação que o estado lhe
proporciona não lhe desenvolve a capacidade de ler as formas e mecanismos que
há de manipulá-lo. Ser livre/feliz pressupõe ter capacidade de condução.
Porque a ditadura de agora é
doutrinária só há uma forma de fazer revolução, a que se faz pela educação.
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