sábado, 7 de julho de 2012

Sociedade Produtora de Alienados, Uma Conveniência

Por Edezilton Martins



Pensa-se liberdade, justiça e democracia no sentido de valores que se aplica a coletividade das pessoas como algo garantido institucionalmente, como um produto. Para garanti-los há os poderes independentes (executivo, legislativo e judicial), o conjunto das leis, as instituições nacionais e supranacionais. Não se pensa liberdade, justiça e democracia como produto de uma formação educacional eficaz em que o homem tenha poder de discernimento, como valores que cada um de acordo com sua capacidade possa impor e fazer cumprir; liberdade como uma conquista individual com reflexo no coletivo, produto da capacidade do poder de dirigir a própria vida sem se deixar ser seduzido pelos mecanismos de sedução e conveniência.

Liberdade, justiça e democracia remete a ideia de igualdade. Não há igualdade nas sociedades, sobretudo na sociedade brasileira capitalista. As duas principais, desigualdade de renda e educacional, dão as condições para que haja dominador e dominado, e seja estabelecida uma ditadura disfarçada. Antes era a ditadura de quem tomava o poder à força, agora é a ditadura do sedutor inteligente e malévolo sobre o ignorante facilmente dominável, do politico sobre o eleitor, do gestor sobre o colaborador, do patrão sobre o empregado,  do marido sobre a esposa e vice-versa, dos pais sobre os filhos, da classe dominante sobre as massas, do capitalista sobre o consumidor, da doutrina religiosa/pastor sobre os fieis, etc.  O homem tornou-se uma maquina individualista e corrupta de dominar.

Não é conveniente para os privilegiados que as massas sejam livres. O  homem verdadeiramente livre não serve aos interesses do sistema. O sistema, algumas igrejas, as esferas privilegiadas (políticos e falsos intelectuais) precisam que haja miséria material e  educacional, senão não se estabeleceria a ditadura de hoje. A ditadura doutrinária.    

O homem ignorante e manipulável é levado pela mídia a substituir o que tem valor cultural de verdade por uma falsa cultura: músicas e programas televisivos sensacionalistas de péssima qualidade (“besteirol norte-americano”). O que cria uma conspiração alienadora. O homem é levado a pensar coletivamente igual, um pensar nivelado ao menor conteúdo porque o sistema necessita deste tipo de sociedade para gerar lucro e poder politico. Chamo este homem de “homem seduzido”.     

O homem seduzido é transformado num consumista como forma de encontrar na satisfação temporária proporcionada pelo consumo um alívio para a falta de felicidade e sentido de vida. Prática que é conveniente comercialmente; que destrói a vida na terra através do consumo desnecessário que retira da natureza mais do que ela pode dar. ” Falta de felicidade, de sentido de vida e de verdadeira cultura” que tornam o homem violento ao extremo, capaz das piores atrocidades.   

O homem seduzido é um homem infeliz porque não desenvolveu a capacidade de ser individualmente e mentalmente livre dos mecanismos de sedução estabelecidos pela ditadura doutrinária. A educação formal não vislumbra a formação do homem livre, capaz de pensar. As pessoas estão saindo  despreparadas das universidades.  

É conveniência a massa de pobres/seduzidos sem capacidade de votar conscientemente como forma de perpetuação e manutenção dos mesmos políticos no poder ("políticos se tornam astros”); é conveniência para algumas igrejas o mesmo tipo de homem senão ninguém frequentaria tais igrejas e não gerariam lucros; é conveniência o mesmo tipo de homem para o capitalista.   

Há um terrível erro concepcional na formação educacional do homem ocidental que é retratado pela poetisa e filósofa Viviane Mosé no livro “O Homem que Sabe“ (“indico para leitura”) o qual corrobora para a existência dessa ditadura doutrinária/homem seduzido.  Para Viviane Mosé a falsa ilusão de que a ciência moderna daria a solução para tudo gerou um excesso de racionalismo (“homem autômato, dominador, com valores invertidos”) e eliminou da vida das pessoas a “potência da vida”.     Para Viviane Mosé vivemos numa encruzilhada, e é preciso incluir a “potência da vida” no cotidiano das pessoas como modo de humaniza-las. Viver ficou para segundo plano. A prioridade é o poder e o ter.  


"Viver é um ato complexo. Temos que conviver permanentemente com a ideia da morte, da perda, da constante transformação. Acordamos de manhã com  uma programação totalmente desordenada e precisamos urgentemente numa velocidade incrível reiniciar a máquina humana para que seja possível a aceitação da dor (sem fugir da dor), o que é feito mentalmente; com a possibilidade de transformar a vida numa coisa muito interessante de viver" (Viviane Mosé). Este processo é feito inconscientemente o tempo todo. Só consegue realizar esta operação quem desenvolveu a capacidade de pensar, discernir separado  do modo de pensar coletivamente igual, porque pensar igual não é pensar.  O homem no estado de alienação não tem condições de reiniciar a máquina (“de transformar a confusão em ordem; a dor em alegria”). O homem não está apto para conviver consigo mesmo e ser feliz.

Não pode existir uma sociedade livre, justa e democrática se as pessoas que a fazem não foram educadas eficazmente. Uma educação que lhes proporcione condições de discernir e pensar/de dirigirem suas próprias vidas e que os permita buscarem uma felicidade consistente. Não pode o homem ser livre se a educação que o estado lhe proporciona não lhe desenvolve a capacidade de ler as formas e mecanismos que há de manipulá-lo. Ser livre/feliz pressupõe ter capacidade de condução.

Porque a ditadura de agora é doutrinária só há uma forma de fazer revolução, a que se faz pela educação.

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