quarta-feira, 20 de junho de 2012

Fernão Capelo Gaivota: autoestima e superação


Por: Edezilton Martins
                       

Fernão Capelo Gaivota é o título de um livro de Richard Bach (disponível em DVD - filme) que retrata a ousadia de uma gaivota em treinar voos rasantes, e desenvolver capacidades que para as gaivotas comuns somente os deuses poderiam ousar. Por isto Fernão Capelo, a gaivota protagonista do enredo, é banida do bando, e empreende uma jornada de crescimento interior que o leva a extraordinária descoberta do eu livre de limites; a descoberta de um estado de consciência integradora como se houvesse um todo do qual somos partes e o todo ao mesmo tempo.   Para os anciões do bando das gaivotas Fernão Capelo não se comporta como um humano.   

Para Fernão Capelo não há limite. O limite somos nós que criamos, ou permitimos que as instituições, sobretudo as religiosas criem. 

Fernão Capelo Gaivota, uma vez banido, encontra-se com um o ancião (Chiang) o qual lhe auxilia na sua lapidação, no descobrir a perfeição e o seu eu interior. Fernão retorna ao seu antigo bando para lhes ensinar o que aprendeu.

No filme, assim como no livro é dito que o céu não é um lugar, que o céu é a perfeição. O filme ainda se aventura por temas como telepatia, sincronicidade, verdades estabelecidas, etc.

O filme foi apresentado no Cine Deusa Branca de Tupanatinga-PE, numa sessão especial para convidados. Após a apresentação houve uma palestra seguida de um bate-papo entre os presentes. Palestra e debate que se transformaram num grande momento filosófico.  

Existe a perfeição?... Há uma consciência integradora e um todo?... Há uma natureza interior no ser humano?... Deus e homem são um?...

Para responder a estas perguntas, que são temas do filme, embora não tratados de forma direta, o palestrante, Edezilton Martins,  colocou sob o crivo da dúvida quaisquer formas de certeza absoluta. Afinal não temos a obrigação de acreditar em verdades, mas duvidar de todas, ou vê-las como possibilidades.

O homem hoje vive e pensa sob o paradigma cartesiano em que tudo precisa ser explicado, onde o pensamento estabelece limites, e principalmente emite ordens de conformidade, fazendo com que nos conformemos com o pouco. Os religiosos, por exemplo, se contentam de que o sentido da vida é sofrer aqui na terra para ir para o céu quando morrer, e deixam de buscar um sentido para a vida aqui na terra. Isto que faz Fernão Capelo Gaivota.        

Diz a bíblia que Adão e Eva viviam no Éden. Não sentiam frio, calor, fome, dor, etc. Ou seja, o Éden era o paraíso (céu) ou o Éden (paraíso) é consciência. Adão e Eva eram um estado de consciência, seres transcendentes e impensáveis. Não dispunham de matéria física (corpo e sentidos sensoriais).    A queda do homem (o ato de comer a maçã) é a própria criação do homem dotado de pensamento, dogmas, conceitos, por conseguinte com entendimento limitado.

 Será possível que o homem caído se transfigure, transcenda a sua condição humana e experimente algum estado de consciência absoluta e integradora que o leve a se sentir uno com o todo?... Devemos ter isso como uma possibilidade. De fato sabe-se que o homem experimenta estados de transcendência, de consciência avassaladora em que sente fazer parte deste todo.  Se este sentimento é uma ilusão criada pela mente ou imaginação humana não se sabe.   A perfeição buscada pelo protagonista do filme é a integração com este todo. 

 Não se trata aqui de estarmos tratando de matéria mística. A ciência contemporânea já se pergunta, ao nível da possibilidade, se não é possível haver o “fator consciência” por traz da formação da matéria. Agora, no mês de dezembro/2011 cientistas encurralaram num acelerador de partículas na Europa a partícula que faltava, e que é responsável pela massa do átomo, à qual deram o nome de “partícula de Deus”.   

O homem, hoje, está adotando a paradigma holístico em substituição ao cartesiano. Trata-se de uma volta ao pensamento dos antigos filósofos. Heráclito de Efeso escreveu que “Tudo é um”. Parece que tudo é um ou nada tem sentido.

Não se trata de fazer apologia ao não pensar cartesianamente. O pensamento elaborado e construído com alicerces firmes, embasado é necessário. Do contrário o homem se tornaria um alienado. O que se defende é que por conta deste pensar cartesiano o homem não se entregue ao que não é explicável logicamente, isto é, o viver o transcendente; o divino no humano.                

 A verdade última seria que matéria é consciência?... Ou que tudo é Deus, porque Deus é consciência? ... (perguntas que não se pode deixar de fazer).

Se tudo é um, tudo é Deus. Se tudo é Deus as religiões estão equivocadas quando levam o homem a se pensarem como separados de Deus, seres submissos, coitadinhos, destinados a sofrerem aqui na terra para terem como recompensa o réu dos céus?...    

 As religiões e as instituições ao prometerem um sentido para a vida pós-morte criaram um homem conformado com a miséria em que vive: ausência de cidadania, infraestrutura, bom serviço de saúde, educação de qualidade, emprego digno, etc. E o maior dos conformismos: o de que somos seres inferiores, limitados, submissos, “separados do todo”, totalmente destituídos de características divinas. Ou seja, criou-se um homem conformado com o sofrimento porque “bem aventurados os que sofrem porque deles é o reino dos Céus”. Ou seja, homens como as gaivotas do bando de Fernão Capelo que não ousam, e pensam ser da natureza das gaivotas pegarem peixes nas águas rasas, nos lixões. Homens sem autoestima. Destinados ao sofrimento.

De tudo isto, parece sensato acreditar que “existem mais verdades entre o céu e a terra do que pensa a nossa vã filosofia”.

Este artigo questionador termina com uma frase de Joseph Campbell, que pode parecer forte para alguns, e que foi a frase com a qual foi encerrada a palestra sobre o filme, qual seja: “Na sua natureza mais profunda o homem é Deus”.

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